terça-feira, 15 de novembro de 2011

LiVerdade

I

Vivemos numa caverna

Em que olhamos sombras do que somos

Desconhecendo-nos a nós e à luz que se nos incide

Tão verdadeira como a água que naturalmente corre

Tão autêntica como nós, na nossa raiz

Como nós, radicalmente


Sou radical por quase me rasgar as veias o desejo de conhecer o fundamento de tudo

Por quase me fazer explodir a cabeça a ânsia latejante de tocar a verdade

Como se fosse carne viva

E apagar a sua sombra da frente dos nossos olhos

II

Quero dar-vos as mãos desacorrentadas

E sair a correr pelo mundo

Completamente nu, de roupas e preconceitos

Apagando fogueiras, espalhando cinzas

Destruindo prisões, tanques, armas

Coletes à prova de bala

Centros comerciais, edifícios que são a própria sombra

Tudo o que não passar da sua ridícula e ilusória sombra

Tudo o que sendo sombra nos mantém acorrentados nesta caverna mesquinha e falaciosa


Quero prosseguir, correndo

Limpando os destroços ao lado dos meus irmãos

Que voem!

Depois, quando finalmente respirarmos e tivermos o que originava os contornos negros do que nunca havíamos visto

A terra respirará connosco

E quero sentir a sua pureza

Tocá-la

Beijá-la

Rebolar-me em mantos de neve

Ou campos de flores de todas as cores do espectro

Quero nadar em límpidas águas

Quero que todos os aromas naturais do mundo

Se me entranhem nas células olfactivas

Quero abrir campas e libertar ossadas

Cagar para os seus espíritos e sombras

Mijar em céus e em infernos

E dançar com elas em memória do que foram

Pela vida! Quero ser livre, quero olhar o céu como céu azul

E construir o céu dos intrujões aqui, na Terra

Alcançar a felicidade enquanto existo

Quero voar

III

E quando isso acontecer

Tudo o que estava para trás será uma laracha

As sombras que vemos são as nossas palas

E só podemos dar-lhes importância até vermos aquilo em que incide a luz

Até vermos a luz

Até conhecermos a vida


Nesse momento

Não haverá rugas que destruam a felicidade dos nossos olhos

Não serão necessários dentes brancos à beleza incandescente de um sorriso

E nem o Sol, nosso amigo de sempre, nos será hostil, porque até ele nos olhará nos olhos


Mas, feliz ou infelizmente

Que à nossa montanha venha, não há Maomé

E só quando se desacorrentarem, se despirem, e derem as mãos até com cuspo

Lá chegaremos, pelo nosso pé.